Oi oi gente, esse é o tortinha de climão, sinta-se em casa.

Pra quem não me conhece eu sou a Marina, sou física, professora particular e divulgadora científica e esse é o espacinho da internet que eu uso para falar de física atmosférica, mudanças climáticas e assuntos correlatos.

Vocês viram e acompanharam mais ou menos a COP nos canais do Tortinha de Climão e agora eu to aqui pra fazer o balanço geral dessa trigésima COP.

Demorei? Demorei bastante, um mês e uns dias do fim da cop. Mas infelizmente depois que voltei de Belém tive que lidar com uma vida meio louca e isso deu uma atrapalhada nos planos. Então mesmo tendo passado o timing, to aqui pra falar da COP30.

Espero que a essa altura vocês já tenham ouvido o primeiro episódio sobre a COP30, que dá uma boa noção do que é a conferência e como ela funciona.

Também participei de outros podcasts em que falo sobre o assunto, vou deixar links na descrição desse episódio.

To aqui pra falar dos resultados. Do que aconteceu. Do que eu acho e do que podemos esperar pro ano que vem.

Você pode pensar “bem, se demorou um mês pra sair esse episódio, então a marina leu todos os documentos que sairam dessa cop né?” pois vocês estão pensando errado. Mas li uma porção de coisas sim e to aqui pra falar delas.

Vou deixar também linkado na descrição do episódio o site da unfccc com os documentos resultantes. e se por acaso você entrar no link vai perceber que os doumentos estão classificados em uma de três categorias: COP30, CMP20 ou CMA7.

Essa foi uma coisa que não comentei no episódio inicial e acho que vale a pena comentar aqui, as cops contém, na verdade, mais de uma reunião. Enquanto rola a trigésima conferência, a famosa cop30, também rola a vigésima conferência entre as partes a serviõ da reunião das partes do protocolo de kyoto, a tal da CMP, e a CMA, que é a reunião entre as partes em relação ao acordo de paris, que tá na sétima rodada já. Então dá pra entender mais ou menos que os documentos estão distribuídos considerando essas temáticas.

Bem, em resumo resumo a tal COP DA VERDADE não foi exatamente muito diferente das outras cops não. Não tivemos nada de muito transgressor e se você estava esperando pelo compromisso global para paramos de consumir combustíveis fósseis eu digo, pessoalmente, que você estava esperando demais, porque não aconteceu.

Vou inclusive já começar por esse polêmico assunto e, talvez, grande vitória disfarçada dessa cop: o mapa do caminho.

Ali, no decorrer das reuniões e dos eventos começou a pintar uma vontade de se delinear um mapa do caminho, um roadmap, para a abolição dos combustíveis fósseis. Sabe, um líder sinalizando pra outro que tinha interesse nisso sim, a idéia ganhando tração e o público e a imprensa se empolgando. Acontece que isso nunca esteve de fato na agenda oficial da conferência. E realmente começou a ganhar tração ali, na própria COP. No fim das duas semanas vários países já tinham declarado apoio a essa proposta.

Aliás, aqui vai uma curiosidade maneira: as listas informais de países apoiando e países contrários aos roadmaps. falavam muito que eram cerca de 80 países apioando, e cerca de 80 países contra. acontece que essas listas eram todas informais e ficavam vazando a torto e direito e viviam sendo contestadas. uma, por exemplo, de países contra o roadmap, contava com a turquia que disse, on record, que não tá nessa lista não. Ou seja, uma leve bagunça.

Acontece que dá pra imaginar que, se boatos davam conta de 80 vs 80, é porque o consenso não tava assim tão fácil de conseguir né. E daí as duas semanas de negociação ali, com várias outras negociações tendo que acontecer também, não seriam suficiente pra colocar esse mapa do caminho nas decisões da cop 30. coisa que, sinceramente, eu achava muito esperada. eu confesso que ficaria bastante surpresa (positivamente surpresa, claro) se tivesse rolado.

Mas não fique triste ainda. Dois países tomaram a frente do negócio e falaram basicamente assim “ah é, vão ficar de frescura com esse mapa do caminho agora é? então vamos resolver isso ano que vem”. E 28 e 29 de abril, em Santa Marta na Colombia, vai acontecer a primeira conferência internacional sobre transição justa, para além dos combustíveis fósseis. Uma iniciativa do governo colombiano e do governo dos países baixos. A presidência da cop apoiou a iniciativa.

E aqui eu vou meter uma notícia não cop, mas que vale aproveitar o gancho: o presidente lula decidiu fazer um pedido pra quatro ministérios: minas e energia, meio ambiente, fazenda e casa civil: façam um mapa do caminho vocês. o despacho foi publicado em 8 de dezembro e dava 60 dias para a produção desse plano. o que é legal maaaaaaaas, e claro que ia ter um mas, o próprio despacho citava que essa transição poderia ser financiada pelo que? isso mesmo, exploração de petróleo da foz do amazonas. pois é né. veremos aí ano que vem o que vão fazer nesse sentido.

Voltando a cop. A Multirão Decision, a menina dos olhos dessa cop, a decisão multirão, ficou lá bem fraquinha, eu diria. Lembrando que os documentos tem esse esqueminha de serem escritos em parágrafos que começam com um verbo e daí seguem com a recomendação ou compromisso firmado. Algumas coisas são importantes de serem ressaltadas: tá todo mundo ciente que os 1,5ºC de aquecimento máximo não vai rolar com esses comprometimentos autodeterminados apresentados, isso que nem todo mundo apresentou as ndcs.

Em um dos parágrafos temos:

“Reconhece que limitar o aquecimento global a 1,5ºC sem ou com overshoot requer produnfa, rápida e sustentada redução em emissões de glibais de gases de efeito estufa de 43% até 2030 e 60% até 2035 em relação aos níveis de 2019 e alcançar net zero em 2050”